A história do balão

Era uma vez um balão que andava perdido a vaguear pelo mundo. O balão conseguia refletir tudo mas não conseguia voar e explorar o que o rodeava porque estava preso a um fio.
Um dia, o balão soltou-se do fio e elevou-se em altura até alcançar as nuvens. Agora podia ver tudo à sua volta e sentia-se livre para explorar dentro das suas limitações de balão, objeto... arrastado para onde o vento o quisesse levar.
Perguntou para si mesmo: "Serei o reflexo das coisas em mim? Ou haverá algo dentro? De que sou essencialmente feito?"
O balão sempre vivera identificado com o que se refletia nele, mas não era ele. Ao subir aos céus passou a observar o mundo de uma perspetiva mais elevada. A perspetiva de quem não pertence ao mundo. Já não se identificava tanto com o que nele se refletia porque de um momento para o outro ele passou a refletir muito mais coisas e, agora, podia vê-las de diferentes perspetivas e alturas; níveis diferentes e reflexos mais completos.
Então o balão continuou a elevar-se descobrindo também que não era feito daquele material estranho e elástico, (espelho que fazia a sua ligação física com o mundo e refletia-o para si), mas sim de ar! Dentro dele existia um certo vazio - um espaço vazio necessário para existirem os reflexos exteriores; uma bolha de ar que apenas era o que era, apenas estava lá e sempre o estivera.
E o balão continuou a elevar-se... cada vez mais alto até ultrapassar todas as camadas da atmosfera terrestre, até não poder haver maior elevação possível! Agora a questão da elevação era relativa: como podia elevar-se mais se à sua volta só existiam astros a pairar, pó de estrelas e mais espaço vazio? Não existia um lugar que fosse alto nem um lugar que fosse baixo. Ele apenas poderia tentar-se a acreditar que estava a elevar-se se se afasta-se da Terra para uma qualquer direção oposta. Mas o balão compreendeu que a questão da elevação já não fazia qualquer sentido...
Então o balão já não tem para onde ir; o balão já não tem nada para se identificar nem qualquer objetivo a concretizar. O que havia nele estava à sua volta. Não era um balão à parte da existência por isso não podia estar separado. - Agora já não pensava ser apenas o espaço vazio que existia dentro dele, mas sim todo o vazio.
Então, terminada a sua jornada, rebenta! E aparentemente desaparece do mundo - (nada se cria nem nada desaparece, tudo se transforma). - No entanto ele não deixou de ser. Como a sua consciência se alargou a toda a existência, ele perdeu a identificação que tinha consigo mesmo e fundiu-se com a corrente cósmica do todo.
Então o balão não pode morrer porque afinal não era um balão.






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